domingo, 17 de maio de 2015

Como diminuir a população carcerária: a receita sueca


Por Osvaldo Valente




Passeando pelo Facebook me deparei com a notícia de que a Suécia desativou quatro presídios por falta de prisioneiros. Claro que se trata de uma boa nova. Dei uma olhada no site que compartilhava a notícia e vi que tinha o link para a matéria do jornal inglês The Guardian de onde extraíra a notícia. Descobri que não era exatamente uma “novidade”. A notícia é de novembro de 2013. A matéria do site brasileiro também datava do mesmo ano.
A matéria, contudo, não deixa de ser interessante. Não tanto pelo fato que reporta, mas pela sinceridade com que os entrevistados tratam o mesmo.
Em primeiro lugar, vamos ao que ocasionou o fechamento das quatro prisões e do centro de detenção preventiva (remand centre, em inglês). A queda muito acentuada do número de encarcerados foi a razão mais imediata da decisão das autoridades suecas. Assim, enquanto desde 2004, a população carcerária vinha decrescendo a uma taxa de 1% ao ano, entre 2011 e 2012 essa taxa caiu abruptamente para 6%. E esperava-se que o mesmo ocorresse em 2013 e 2014. A queda acentuada, brusca e, sobretudo, fora do comum levou ao fechamento das unidades prisionais.
Qualquer autoridade no mundo se orgulharia disso e talvez apontasse como causa da queda uma política qualquer de sua iniciativa. Mas, ao que parece, os suecos não estão tão interessados nisso, isto é, em fazer propaganda de si mesmos. Assim, perguntado acerca de uma possível explicação para a queda do número de presos, Nils Öberg, autoridade máxima no setor de execução penal sueco, disse que “ninguém sabe ao certo” a razão da queda brusca e repentina do número de encarcerados e que “tinha esperança de que a postura liberal nas prisões suecas, com foco na reabilitação dos prisioneiros, tenha desempenhado um papel [na diminuição]”.
Realmente espantosa a modéstia.
Mas a matéria segue. E descortina uma outra prática, desta vez da justiça sueca, que ajuda a explicar a súbita queda na quantidade de presos. A Suécia resolveu aplicar penas mais leves aos crimes ligados às drogas. Só essa decisão retirou das prisões duzentos presos. Além disso a aplicação de penas alternativas (a pena de liberdade condicional é a citada na matéria) a roubos, crimes relacionado a drogas e mesmo crimes violentos, diminuiu o número de prisioneiros – penas, ainda que curtas, como seis meses de detenção, ajudam a abarrotar as prisões.
Em suma, trata-se de um conjunto de políticas que aliviam as penitenciárias. Ao contrário de políticas que privilegiam a privação de liberdade como punição, a Suécia aposta em penas alternativas, abrandamento da punição e reabilitação de seus presos.
O Brasil está presente na matéria do jornal inglês. Nada de Carnaval ou futebol, contudo. Ilustra, ao lado de EUA, Rússia, China e Índia casos de países que apostam no encarceramento. Já é o país com a quarta maior população carcerária do mundo. Nada de que se orgulhar, portanto.
Por fim, algo sobre o que está realmente dito na matéria. Vi alguns comentários que falavam que educação, saúde e emprego seriam as variáveis explicativas do fenômeno observado. Não, não é isso que o explica. As variáveis citadas podem explicar uma parte da questão – a baixa taxa de criminalidade e, portanto, de encarceramento suecos. Mas não explica tudo. As políticas citadas, voltadas especificamente para a questão sim explicam a queda verificada. São políticas dedicadas ao tema. São múltiplas, pois múltiplas são as razões para uma população carcerária. São respostas oficiais que deram resultado. Vão dar resultados sempre e em todos os lugares em que forem aplicadas? Boa pergunta. Deixo a resposta para os próprios suecos: conscientes de que essa diminuição pode ser apenas sazonal, eles vão vender os terrenos de duas prisões e emprestarão os outros dois para o serviço público. Caso volte a crescer o número de presos, será fácil ter de volta as instalações carcerárias. Precavidos, além de modestos. Enquanto isso, vão reforçar suas políticas. Nada mais justo. Que sejam reforçadas as boas práticas.


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